domingo, 7 de junho de 2015

Encolhida na cama, sozinha no quarto escuro... os pensamentos do que poderá acontecer comigo não me deixam pregar o olho... me viro pra um lado... me viro pro outro.... e nada de conseguir dormir...

Consciência pesada é uma droga... pra não dizer um palavrão que ia pegar muito mal a uma dama.... ou quase dama... por que não sei se se pode considerar quem rouba um violão - assim do nada -  uma dama. Damas não roubam.

Pois é... roubei um violão. Também... por que ele tinha de estar tão a mão. Ficava dioturnamente em cima de uma das cadeiras de vime com almofadas floridas - flores azuis em cima de um fundo vermelho - na varanda da casa da minha vizinha.... bem ao lado da minha.... pedindo pra ser roubado. E eu roubei.

É um pouco nebuloso na minha cabeça o momento do roubo... por que não me lembro dos detalhes... só o que está bem claro agora é que o  violão que estava sempre em cima da cadeira na varanda da casa da minha vizinha agora está escondido no quarto ao lado aí do meu - quarto de visitas - entre a cama e a parede, embaixo da colcha de crochê de fio de algodão feita por mamãe.

Mas ele não poderá ficar indefinidamente lá. Certamente uma hora alguém vai encontrá-lo... e vai querer saber de quem é. Meu Deus, onde vou esconder um violão!? Um violão.... Estou com um problemão. E o pior é que nem sei por que razão roubei o maldito violão... nem toco... nunca tive coordenação nenhuma pra com a mão esquerda fazer nascer um dó... um ré... um mi.... e com a mão direita tocar as cordas de forma tal que saia um som que faça qualquer sentido. Fosse um piano... ainda vá... sei em que tecla o dó está.

Melhor é devolver o violão. Amanhã... assim do nada, posso bater na porta - toc... toc... toc... - e quando minha vizinha atender, fazer a maior cara de inocente do mundo - vou ficar vermelha...já sei - e dizer: "Olha só...   mamãe pediu pra eu entregar este violão pra você... alguém entregou pra ela e disse que tirou daqui de sua casa...'

Que burra!!! É óbvio que minha vizinha vai querer saber  com mamãe quem foi esse alguém... e aí a história virá à tona... Ro-san-ge-la é uma ladra.... de violão.

Mas, quem sabe... também posso ir agora.... pé antepé... e colocar o violão debaixo do pé de limoeiro que fica no pomarzinho ao lado da casa da minha vizinha... amanhã alguém o encontra e caso encerrado... o violão foi perdido e encontrado. Mas meu coração já bate descontroladamente aqui.. só de pensar que na hora H todas as luzes da cidade irão acender - como grandes holofotes em minha direção - gritando: pega ladrão... ou ladra no meu caso.

Por que não tive medo de pegar o violão!? E em plena luz do dia, mamma mia!!! É claro que alguém deve ter visto... alguém sempre vê. Quantas vezes já vi alguém dirigindo colocar o dedo no nariz... e a pessoa nem percebeu que eu estava vendo... alguém sempre vê... definitivamente... alguém sempre vê.

Ouço barulho na fechadura... a porta de entrada abre... vejo por baixo da porta que a luz foi acesa... ouço vozes... seguro a respiração e faço de conta que estou no sono profundo... ainda não cheguei ao sono REM - mas qualquer observador atento vai perceber que estou dormindo de mentirinha. Os sinais da mentira são visíveis.

Alguém toca meu ombro... acordo sobressaltada....

Ufa... não roubei nada... percebo... agora... que estou acordada!




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